domingo, 28 de fevereiro de 2010

A vida






A vida é uma linha
Um detalhe
Um pedaço
A vida é pequena
Com poucas cenas
Poucas pessoas vivem
A vida é a morte lenta
É o plano mais bem executado
É a música mais bem detalhada
A vida é simples
É jardim com erva-daninha
É dia de domingo com sol
A vida é arroz com feijão
É criança chorando no colo da mãe
É sentar na varanda tomando chá de cidreira
A vida é isso!
O resto...é desculpa pra tentar preencher o vazio nas tardes chuvosas.
O resto...nós inventamos, criamos, colocamos em execução, e ainda chamamos a vida de dura, de injusta.
Ora, quem faz a vida somos nós, busque o melhor, o conhecimento, a educação, a misericórdia, a caridade, o amor, cultive alegria, bondade. A vida é simples, com detalhes significantes!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ele e eles


O jornal de ontem estava em suas mãos, frias, com alguns calos, mãos ásperas, já tremulas pelo cansaço da vida. Sentado naquele banco, ele continuava. Naquela praça, o banco ficava já próximo à calçada, a grama verde o cercava, ainda estava com gotículas de orvalho da madrugada fria que passara por ali.

O sol despontava, seus raios atingiam levemente os poucos fios grisalhos daquele senhor que se vestia, como se não houvesse feito frio algum. Apesar de sua camisa de manga longa, xadrez, em tons de cinza, o tecido não era nada espesso, nela haviam apenas quatro botões, um deles estava pendurado apenas por uma linha branca. Sua calça era modelo social de bolsos fundos, dava para notar que havia um lenço branco em seu bolso direito, tinha uma ponta que estava à mostra, dava a sensação de que havia sido usado a pouco. A calça marrom cobria metade de seus sapatos pretos, meio acinzentados pela poeira e orvalho.

Seu semblante estava com um ar feliz, satisfeito com a vida, grato por tudo. Posso estar errada, mas era difícil se fazer enganar por aquele rosto tão sereno. Não haviam sinais de vícios, ou apego a alguma coisa, parecia ser lúcido o suficiente para entender que a vida prega muitas peças e que nela só estamos para aprender.

A cidade estava acordando, pouco a pouco tudo ia tomando o seu lugar, carros iam surgindo, pessoas passando, vendedores montando suas barracas, o pipoqueiro se ajeitou em seu canto, as pipas já seguiam cortando o céu azul, dando cor aquela paisagem, as gotas de orvalho já estavam caindo, algumas já tinham até secado, o cheiro de café coado percorria aquela rua, os pães frescos saiam da fornalha. Aquele homem continuava sentado naquele banco, na praça, folheando o jornal.

Uma criança de mais ou menos quatro anos, um menino de olhos e cabelos claros se aproximou daquele homem com um pedaço de pão com manteiga nas mãos embrulhado num saquinho de papel marrom, já com a metade a mostra. O homem percebendo que o menino queria sentar-se naquele banco ao seu lado, tratou logo de enrolar seu jornal e passou no assento a modo de espantar dali alguns insetos e algumas folhas secas e pôs o menino ao seu lado. A mãe do menino o olhava de uma certa distância com seu outro filho nos braços, parecia ser de classe média alta, o olhava com satisfação e alegria.

O homem desdobrou seu jornal com delicadeza para que não amassasse mais e nem rasgasse, voltou a fixar seu olhar nas notícias. O menino o observava quieto, rasgou um pouco seu embrulho, partiu ao meio o pão que o alimentava e o estendeu ao homem, que com os olho marejados o pegou daquela mãozinha tão branca e delicada, agradeceu ao menino, olhou para sua mãe e fez o mesmo gesto de agradecimento. O menino saiu correndo em direção a mãe, eles seguiram caminhando pela praça até que deixou perder-se de vista.

Ele sempre ficava sentado naquele banco a fim de ver sua filha e seus dois netos, todos os dias. Mas ela não sabia que ele era seu pai e avó de seus dois filhos, ele só queria observar, só olhar por mais um dia o rostinho lindo daquela criança, olhar por mais um dia o semblante calma e delicado de sua filha, que ele já não tocava a mais de vinte e dois anos.

O homem continuou ali, sentado, puxando na memória a feição dos três, relembrando o ocorrido naquela manhã tão ensolarada, deixou de ser fria e tornou-se aconchegante e quente em minutos. Continuou ali, agora a cantarolar sozinho, levantou-se e deixou-se perder de vista.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ela, de cores escuras


Uma mulher, aparentando ter quarenta e cinco anos.
Vestia roupas em tons escuros. Tinha também um chapéu, destes bem grande e belo, mas já não era tão belo, pois parecia ser bem velho e já desgastado.

Ela vinha descendo a rua movimentada, olhando os carros parados a sua direita, tinham vários aliás.
Pela sua aparência, roupas e jeito de andar, arrisco o palpite de...andarilha ou moradora de rua. Ela deveria estar nessa vida a alguns anos, pois se mostrava com bastante experiência, olhar arisco, meio aberto e meio fechado, olhava fixamente para seu lado direito.

A delicadeza no andar, revelava que ela já fora uma mulher de bons recursos.
A observei por alguns minutos e me veio a cabeça a ideia de que era possível que tivesse sido alcólatra por alguns anos. Que tivesse vivido de bar em bar, pedindo seu Martini e deslizando em suas noites mais profundas e amargas. Talvez tivesse feito isso por alguém, sem perceber que esse alguém não fazia, nada, por ela.

Ela não parecia ingênua, carregava consigo um ar de sabedoria profunda, de experiência. E parecia não se arrepender de ter vivido daquela forma.

O tempo estava cinzento, um pouco de fumaça, a claridade das, já poucas luzes acesas da cidade, mais propriamente daquela rua, se misturavam a luz natural do dia, uma tarde sem muita beleza própria, era um final de tarde de verão.

Os carros vinham descendo em baixa velocidade, não era uma ladeira, uma rua muito inclinada, mas dava para ser notado uma certa baixada.
E ela continuava ali, entre a fileira de carros estacionados e os carros que desciam a rua.

Eu senti vontade de ir até a vendedora na praça e comprar uma rosa a esta senhora. Ela por sua vez não entenderia nada.
Mas não era mesmo para entender, pois quem tinha acabado de entender era eu, quem tinha acabado de entender o sentido disso tudo, de entender quem era aquela mulher, era eu.

Eu entendi tudo...

Vire a página


Vivo tentando me convencer de coisas
Vivo achando que enxergo errado os nãos que recebo, de longe parecem que são 'sins', engraçado
Vivo pensando que perco com facilidade o chão, mas sempre me deparo com uma ponte logo mais a frente

Ora, se histórias são histórias, o que me faz pensar que eu não possa virar a página então?

Vivo, apenas vivo!


Ando pisando nas pontas dos pés
Ando falando menos sobre mim mesma
Ando olhando para os dois lados antes de atravessar a vida
Ando cautelosa demais, pensativa demais
Ando observando quem e o que me rodeia


Quanto mais cuidado se toma
Menos se vive
Então quero sim uma roda de amigos, cerveja e muita bobeira para falar
Pode ser assim, a minha maneira?
Está bom para você? Oh, não responda!
Já não me importo mais com o que dizes!


Vivo, apenas vivo
Se isso te assusta, então se afaste!